Na semana passada, motoristas e cobradores da Viação Vitória paralisaram as atividades em protesto contra o atraso no pagamento de salários. Desde o ano passado, há uma articulação na Câmara de Vereadores pela instalação de uma Comissão Especial de Inquérito CEI para investigar deficiências no funcionamento no transporte coletivo e apurar supostas ilegalidades na licitação que definiu as atuais empresas que operam o sistema. E na véspera do carnaval o gerente de uma das empresas chamou a imprensa para reclamar da concorrência das vans, que fazem transporte clandestino de passageiros na cidade, causando, segundo o executivo, prejuízo de milhões de reais às empresas.
As paralisações têm sido mais frequentes na Viação Vitória, que ainda não veio a público comentar sobre a sua situação econômica e financeira e se ela é derivada da concorrência do transporte clandestino ou há algum desajuste na composição das linhas. Consta que a empresa ainda não conseguiu pagar a outorga pela concessão do serviço. Também a CEI (ou CPI, como é mais conhecida) anunciada pelos vereadores teria a Vitória no centro, tanto por causa das notórias dificuldades no pagamento dos salários e benefícios dos empregados, que geram greves prejudiciais à população, como em relação à idade e estado de conservação dos ônibus. O BLOG espera posicionamento da empresa para publicação.

Quanto à concorrência desleal do transporte clandestino, feito por cerca de 80 vans, a queixa mais contundente veio da Cidade Verde. No início deste mês, o gerente Sérgio Hubner deu entrevista coletiva em que afirmou chegar a milhões, por ano, a perda de faturamento da empresa com a atuação das vans. Hubner disse que a perda média no ano passado foi de 20%. Na entrevista, o executivo lembrou que a Cidade Verde pagou a outorga exigida pela Prefeitura de Vitória da Conquista e cumpre todas as exigências legais, a exemplo das obrigações trabalhistas (INSS, PIS, FGTS), além dos tributos municipais e estaduais para funcionamento da empresa, que tem mais de 500 funcionários.

Sérgio Hubener falou em desânimo por causa da ameaça do que ele chamou de “agente nocivo”, que invade a sua área, praticamente sem ter custo, e que essa ação predatória do transporte clandestino vai acabar sendo desastrosa, no futuro, para o próprio usuário, que deverá arcar com uma tarifa maior.
A atuação das vans é irregular, o Simtrans tem feito blitzes, mas o problema permanece e afeta as duas empresas que operam o sistema municipal de transporte coletivo. O BLOG obteve do secretário municipal de Mobilidade Urbana, Luís Alberto Sellman, uma manifestação sobre o assunto.
RISCOS NA FISCALIZAÇÃO
Segundo Sellman, desde 1997, a Prefeitura de Vitória da Conquista vem combatendo sistematicamente o transporte irregular com o apoio da população da cidade. Ele diz que a luta é árdua e explica que a fiscalização de trânsito tem realizado constantes blitzes, “mesmo não podendo priorizar apenas este combate, em detrimento de toda a fiscalização de trânsito, da assistência aos acidentes e da organização do trânsito”. O titular da SEMOB diz que têm sido realizadas ações conjuntas com a Polícia Militar, “sempre que isso é possível, por conta do risco da atividade e da necessidade de atuação para coibir as infrações de competência estadual”.
Nas palavras de Luís Alberto, “as supostas declarações de Sérgio (Cidade Verde), a meu ver, ajudam na conscientização da população quanto ao problema, porém, deve ser acrescida das informações com relação às ações da Prefeitura (não sei se o fez)”. O secretário considera que as queixas do executivo da Cidade Verde são precoces, “na medida em que avaliam a redução de passageiros considerando apenas o mês de janeiro e alguns dias de fevereiro”. De acordo com Sellman, nos dois últimos anos, por exemplo, “não tivemos redução e ao contrário, aumentamos um pouco os passageiros transportados”, e que a a avaliação do gerente também carece da apropriação de mais dados interferentes na demanda, como férias escolares em datas diferentes de anos anteriores, por exemplo.

O secretário municipal de Mobilidade Urbana afirma que o transporte clandestino, disfarçado algumas vezes de alternativo, tem crescido nas cidades brasileiras de médio e de grande porte, a contragosto dos bons gestores públicos. Na opinião de Luís Alberto, o transporte clandestino, “invariavelmente predatório, ele fragiliza ou extermina o serviço regular de transporte coletivo e, nos últimos anos, tem se mostrado extremamente nocivo também pelo viés do tráfico de drogas, roubo de veículos e acidentes de trânsito, aumentando a violência urbana”.
Sellman ressalta que Vitória da Conquista é a única cidade de médio e grande porte no Nordeste que não possui o sistema de moto-táxi e que, segundo ele, combate com firmeza o transporte irregular. “Mas, em suma, as nossas ações no combate ao clandestino são firmes e contínuas e temos o apoio da grande maioria da população, acredita o secretário.
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